As Aventuras das Meninas Super Poderosas

Como tudo começou

Por Meyre Anne Sampaio Moreira

Em 2001 quando o Projeto foi implantado em Itaberaba, eu e Nívia fomos designadas pela diretora da escola onde lecionávamos, a trabalhar no “Fluxo” – como era chamado na época. Não conhecíamos a proposta do Projeto, sabíamos apenas que haveria um curso de capacitação com duração de três dias, onde receberíamos um treinamento para desenvolvermos a nova metodologia que nos foi apresentada. As orientações que recebemos não foram suficientes para nos subsidiar em nosso trabalho com a nova clientela; ou seja, tivemos que aprender sozinhas e, assim, com muitas dificuldades iniciamos os nossos trabalhos.

Recebemos uma clientela formada por alunos que se encontravam defasados, não apenas em idade/série, como também em conhecimentos, uma vez que ficaram fora da escola por três, quatro, cinco anos. Outros eram multirepetentes, dos quais muitos não tiveram uma base alfabética, e por isso sentiam extremas dificuldades em assimilar os conteúdos oferecidos pelo programa do Projeto.

Nívia e eu fomos convidadas a desempenhar uma função extra; seríamos chefe de turma - cada turma tinha um professor chefe de turma - e então, o trabalho se tornou ainda, mais difícil. Era da nossa responsabilidade resolver todos os “conflitos” que aconteciam com os nossos alunos dentro e fora da sala de aula; uma vez que, os demais professores nem tomavam conhecimento dos problemas que aconteciam. No início, muitas confusões surgiram, pois os alunos eram agressivos uns com os outros. Alguns eram usuários de drogas, outros chegavam na escola completamente bêbados e, muitos procuravam brigas por qualquer bobagem.

Certa vez, após um jogo de futebol, houve uma discussão entre um aluno do Projeto e outro do Regular. Dois dias depois, soubemos que nosso aluno havia levado uma faca para a escola. Como a chefe de turma dessa classe não atuava, coube a mim e a Nívia interferir. Depois de muita conversa e muitos conselhos, o aluno nos disse onde estava escondida a faca, e para nossa grande surpresa, delatou um outro colega que levava constantemente um revólver para a escola. Nós quase enlouquecemos, mas conseguimos encontrar o revólver embaixo de uma placa de cimento, ao lado da sala de aula. Foi um desespero geral, a diretora queria expulsar os dois alunos e nós duas tentávamos persuadi-la a dar uma segunda chance aos dois; pois havíamos conversado com eles durante horas e, percebemos que ambos mostraram-se arrependidos, prometendo não repetir tamanho desatino. Explicamos para a diretora que eles tinham uma história de vida muito triste e complicada e, que o fato de estarem na escola todos os dias, revelava o interesse que eles tinham em aprender a ler e escrever. É isso aí! Até o momento eles não dominavam a leitura e a escrita, assim como muitos outros. Após muito diálogo, conseguimos mudar a pena de expulsão para suspensão de uma semana.

Esse episódio foi apenas um entre muitos outros, mas com dedicação, compromisso e muito carinho, realizamos um trabalho todo voltado para elevar a auto-estima daqueles alunos. Tivemos muito trabalho, pois nos dedicamos quase que exclusivamente aos alunos do “fluxo”, mas o importante é que conseguimos e, a nossa maior satisfação foi chegar ao final do ano com a certeza de que fizemos a diferença na vida de muitos alunos. Ah! Aqueles dois alunos do episódio da faca e do revólver foram premiados como alunos destaques. Eles se esforçaram muito, participavam ativamente das aulas, realizavam as tarefas propostas e conseguiram aprender a ler e escrever com uma certa desenvoltura. Já pensou se não tivessem tido uma segunda chance? Talvez tivéssemos perdido dois bons alunos para a criminalidade. Hoje estão cursando o 2º ano no Colégio Luís Eduardo Magalhães. De vez em quando encontro os dois.

À vezes me distraio com algumas lembranças daquele ano, foi um período difícil. Entretanto, através de muito trabalho, vencemos nosso desafio.

Postado em 06 de setembro de 2010
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Por que, meninas super poderosas?


Por Meyre Anne Sampaio Moreira

Era dezembro de 2001, noite conturbada, cheia de discussões e desabafos. Tratava-se da última reunião com os professores do “Fluxo” e a líder local. Também estava presente a líder de área – na época Líliam. Estávamos todos reunidos, discutindo sobre as dificuldades, as batalhas e a vitória final. Ao término da reunião, a líder de área passou uma informação que interessou a todos. Nos disse, que no ano seguinte, os professores do Projeto teriam um suporte pedagógico maior. Seriam acompanhados e orientados por uma equipe de supervisores - um para cada área específica. Ainda nos informou que aqueles que tivessem interesse em participar da seleção para ser um supervisor, deveriam enviar seu currículo para a Equipe Central em Salvador e, muitos enviaram seus currículos, inclusive eu e Nívia. Soubemos que a seleção seria feita pela UNEB em janeiro e assim esperamos. Passou janeiro e nada! Não tivemos nenhum retorno. Fevereiro já estava findando levando junto as nossas esperanças, quando recebi uma ligação que revolucionou minha vida profissional. Era uma moça chamada Adelita, quem falava comigo ao telefone, ela me deu a boa notícia de que eu havia sido escolhida para trabalhar com os professores de Língua Portuguesa. Fiquei felicíssima e apesar do grande entusiasmo lembrei-me de perguntar sobre Nívia. Então, Adelita me informou que até aquele momento seu nome não constava na relação. Fiquei triste por minha amiga, pois estávamos juntas em tudo, desde a época da faculdade. Éramos chamadas de “A dupla dinâmica”, porque não desgrudávamos uma da outra. Não demorou muito e uma semana mais tarde, soubemos que o rapaz selecionado para trabalhar com História, por motivos particulares, havia desistido. Adivinha quem entrou em seu lugar? Isso mesmo! Capitinga - apelido que uso para chateá-la, por seu nome ser Nelsonívia, me utilizo do Nelson para provocá-la um pouquinho, no entanto, nunca consegui. Ela não se importa muito e ainda atende quando a chamo assim.

Adelita manteve contato conosco durante todo o tempo. Nos informou de que no início de março iríamos para Salvador receber as orientações sobre como desempenhar nossa nova função. E assim, aconteceu! Ficamos em Salvador por quatro dias e lá conhecemos muita gente nova. Eram cerca de 240 supervisores e cada equipe seria composta por 6 - um para cada área do conhecimento. Também foi em Salvador onde conheci minhas novas colegas de trabalho. Sílvia de Iaçu (Supervisora de Ciências), Darlene de Jussiape (Supervisora de Geografia) e as demais de Itaberaba. Yoneide (Supervisora de Matemática) e Antônia (Supervisora de Práticas Educativas). Juntas, formávamos a equipe de supervisoras do pólo 19, constituído por 9 municípios: Barra da Estiva, Jussiape, Ituaçu, Tanhaçu, Contendas do Sincorá, Iramaia, Marcionílio Souza, Iaçu e Itaberaba. Ainda em Salvador, sob orientação de Adelita – nossa Líder de Área – traçamos o nosso roteiro inicial. Começaríamos o trabalho por Barra da Estiva, Jussiape, Ituaçu e Tanhaçu. Nem imaginávamos o que nos aguardava.

Retornamos de Salvador na sexta e no domingo já estávamos na estrada. Que dia sofrido! Fomos para Barra da Estiva numa Kombi caindo aos pedaços, saímos às 14:30h e chegamos por volta das 21:00h. Ao chegarmos, Adelita já estava aflita com o nosso atraso e em meio ao frio de “lascar o cano”, explicamos para ela toda a situação. A distância era demasiada e o carro se encontrava em péssimas condições. Nos lançamos nessa aventura sem nenhum centavo no bolso, viajamos com a promessa de que receberíamos um certo valor para cobrir as despesas de viagem, o que não aconteceu.

Na manhã da segunda-feira, nos reunimos com Adelita e os líderes locais de cada município onde iríamos trabalhar. Ainda me lembro das lágrimas de Antônia, quando soubemos que para Jussiape não havia transporte e que o trajeto era muito difícil. Longe de casa e sem dinheiro, confesso que o desânimo tomou conta de todas nós. No finalzinho da tarde, tivemos que decidir entre viajar – na esperança de que o dinheiro entrasse em nossas contas no dia seguinte – ou retornar para casa e aguardar segunda ordem. Com a compreensão de Adelita, optamos pela alternativa número dois. Fizemos bem, naquela semana o dinheiro não foi repassado para nenhuma de nós.

Em nosso primeiro encontro, depois da frustrante ida a Barra da Estiva, estávamos revigoradas, cheias de idéias, completamente entusiasmadas. Decidimos que iríamos vencer cada obstáculo e foi por causa da nossa garra, do nosso desempenho, da nossa obstinação e acima de tudo, da nossa vontade de vencer que Adelita nos intitulou de “AS MENINAS SUPER PODEROSAS”. Os desafios foram muitos, mas derrubamos cada barreira que se colocou entre nós e o nosso objetivo de trabalho. E foi por mérito nosso, que no primeiro probleminha que surgiu em Maracás e Lagedo do Tabocal, chamaram “As meninas super poderosas” para entrarem em ação.



Postado em 06 de setembro de 2010
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A chama ardente

Por Meyre Anne Sampaio Moreira

A nossa primeira viagem para Tanhaçu foi durante o dia. Nada interessante! A estrada era horrível e o ônibus quebrou na saída de Lagedo do Tabocal (Lagedo, eles escrevem assim mesmo, com g). Ficamos parados ali durante umas quatro horas até que chegasse o outro ônibus que havia saído de Jequié. Durante esse período, sentimos sede e fomos ao único bar que havia pelas proximidades. Ao chegarmos, fomos atendidas pela dona do estabelecimento que nos informou que a única água que havia era aquela que passarinho não bebe (cachaça! Rsrssss). Imagine só! Cansadas, suadas e com sede.

Com a chegada do ônibus, retomamos nossa viagem. E que viagem! O motorista começou a nos contar algumas histórias. Ele disse que quase todas as noites ao se aproximar de Tanhaçu, via uma chama pequena que aumentava até ficar enorme e depois sumia de repente. É claro que nós não acreditamos e dissemos a ele que provavelmente deveria ser a claridade dos faróis dos carros que por ali passavam. Então ele nos questionou:

_ E por que é sempre no mesmo trecho da estrada? E que carros são esses que nunca passam por nós?

Antônia foi a primeira a falar:

_ Vai ver que os carros entram em alguma estrada de chão com destino a alguma fazenda.

E ele insistiu:

_ Mas todas as vezes? Até hoje, depois que vemos a chama, carro nenhum passou por nós.

De repente! Apareceu um tatu e o motorista queria atropelar o coitado a qualquer custo. Direcionava os faróis para a pobre vítima e acelerava sempre que ela parava. Porém, o bichinho foi mais esperto e fugiu indo mato adentro.

O tempo passava e a gente provocava (rindo muito):

_ Onde está essa luz que não aparece nunca?

E o motorista argumentava:

_ Vai ver que hoje é uma das noites em que ela não aparece.

Mas não demorou muito e o motorista começou a berrar:

_ Olhem! Olhem! Lá está ela. Eu não disse? Observem que ela vai aumentar.

Todas nós nos apressamos para observar e pudemos vê-la várias vezes (com exceção de Yoneide, pois toda vez que ela olhava a luz sumia. Incrível, hein? Apenas ela não viu). Realmente a chama cresceu até ficar enorme e começou a se aproximar de nós. Antônia, a preparada, sempre andava com uma máquina fotográfica e pediu que eu tirasse uma foto. Aproveitei e rapidamente, tirei três (pra garantir, né?). Só assim Yoneide poderia ver a chama através das fotografias. Sim, é verdade! A chama ficou perfeitamente nítida nas fotos.

Voltando ao episódio, não sei se para nos amedrontar por estarmos rindo dele antes de vermos a chama, o motorista nos contou alguns casos envolvendo a mesma. O primeiro deles foi sobre um fazendeiro que não acreditava na existência de tal fenômeno e tirava o maior sarro da cara das pessoas que afirmava tê-lo visto. Certa vez, segundo o motorista, esse fazendeiro estava na estrada a caminho de Contendas do Sincorá. Era noite e ele de longe avistou uma pequena claridade que começou a crescer até se agigantar. Assustado, parou o carro e percebeu que a chama aproximava-se mais e mais. Como percebeu a rápida aproximação da coisa tentou dar a partida, mas não conseguiu. Seu carro, não se sabe como, enguiçou. Então, vendo a enorme chama diante de seus olhos, apavorou-se e saiu do carro correndo. Nesse exato momento seu carro foi incendiado. No dia seguinte, alguns homens encontraram-no vagando pela estrada, completamente perturbado.

Explicação? Não sabemos! Contam os mais velhos, que aquela região era farta em ouro e que muitos morreram tentando encontrá-lo.

Obs.: Pena não ter ficado com uma foto para postar aqui!
 
Postado em 07 de setembro de 2010  
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Sufoco!!!

Por Meyre Anne Sampaio Moreira
 
Para chegarmos a Jussiape, era um sofrimento. Acordávamos às 05:00h, pegávamos o ônibus para Milagres às 06:00h e lá esperávamos o Camurujipe, único transporte que rodava para Tanhaçu durante o dia. Em Tanhaçu, pegávamos o Novo Horizonte para Barra da Estiva e, nesse município, fretávamos um carro (um não, dois). Pois, éramos seis); uma vez que, não havia transporte de Barra da Estiva a Jussiape. E isso não era tudo. Para chegarmos a Jussiape, descíamos uma serra bastante íngreme, com pedregulhos maiores do que um pneu de trator. Era uma estrada perigosa e a viagem super desconfortável. Sacolejávamos durante todo o trajeto e, em muitos trechos, tínhamos que descer, ou o carro não passava. A estrada era deserta, quase não passava carro (e não é difícil imaginar o porquê).

Um dia, na SEDE em Itaberaba, as meninas (Sílvia, Yoneide e Antônia) estavam consultando um dicionário e encantaram a palavra ermo. Daí por diante, passaram a chamar Jussiape de ermo. Darlene não gostou muito. Mas o que ela poderia fazer? Realmente para nós, Jussiape era o fim do mundo. E com todo respeito! Se Judas de fato perdeu as botas em algum lugar - como dizem as pessoas - tenho certeza de que foi lá. Também suponho que seja em Jussiape, o lugar aonde o vento faz a curva.

Foi em uma das viagens a Jussiape (a primeira para ser exata), que Yoneide passou mal. Estávamos voltando para Barra da Estiva, subindo aquela serra enorme e medonha, durante a noite (Que loucura! Subir aquela serra a noite, mas não tínhamos outra opção, pela manhã iríamos trabalhar). Yoneide, não agüentava mais os sacolejos e começou a ter vertigens, sua pressão baixou e ela pôs-se a vomitar. O motorista, preocupado, aumentou a velocidade e levou-a ao hotel, aonde iríamos nos hospedar. O cheiro de mofo nos quartos era insuportável. Olhamos para Yoneide e percebemos que ela precisava de atendimento médico urgente. Então, enquanto as meninas saiam para procurar outro hotel, eu e o motorista a levamos para o único hospital da cidade. Chegando lá fomos muito bem recebidos. O enfermeiro logo mediu sua pressão e constatou que estava baixa. Aplicou-lhe uma injeção, enquanto uma enfermeira fôra chamar o médico. Esse, muito galanteador, examinou a paciente e decidiu que ela deveria ir para o soro e ficar em observação por algumas horas. O tempo passava e conforme suas orientações, ali esperávamos. Yoneide melhorava visivelmente, então começamos a conversar. Ela, animada, comentava a todo instante que nunca fôra tão bem atendida pelo SUS. Depois de algum tempo, o médico retornou e novamente a examinou, diagnosticando que ela já havia se recuperado. Então falou:

_ A senhora está ótima. Vou chamar a enfermeira para que retire o soro, e assim estará liberada.

Após alguns instantes, a enfermeira entrou na sala, retirou o soro e me entregou uma folha de papel. Olhei para o papel, depois para Yoneide e em seguida para o motorista (que ainda estava a nossa espera) e disse:

_ Aqui estão todas as despesas com o atendimento. São R$ 58,00.

Assim que terminei de falar, foi a vez de Yoneide olhar para mim, depois para o motorista e em seguida para a enfermeira. Então, ouvi-la perguntar:

_ Aqui não atende pelo SUS?

E a enfermeira respondeu:

_ Sim. Das 06:00h as 18:00h.

Quando chegamos ao hospital, já era por volta das 20:45h. Resumindo. Tivemos que pedir ao motorista que pagasse a conta, e assim que chegássemos ao hotel acertaríamos com ele.

Chegando ao hotel recebemos através da proprietária, um recado deixado pelas meninas. Elas encontraram outro hotel e estavam a nossa espera. Fomos para o Santa Rita, onde a diária custava R$ 20,00; era caro, mas, pelo menos não cheirava a mofo. Acertamos com o motorista R$ 150,00 pelo frete - do carro dele, pois as meninas já haviam pagado R$ 100,00 ao outro motorista – e mais R$ 58,00 referente ao empréstimo feito para pagar o atendimento de Yoneide. O pagamento do frete dos carros era alto, mas era a única opção que tínhamos para chegar em Jussiape. Cada supervisor recebia R$ 300,00 de ajuda de custos para pagar as despesas com alimentação, passagem de ônibus, frete de carro e hospedagem em 9 municípios, quinzenalmente. Ou seja, tínhamos que fazer milagre. Bem que tentamos, mas é claro, não conseguimos. Só na primeira quinzena, o dinheiro, praticamente acabava.

Trabalhamos os dois dias seguintes e as despesas foram altíssimas. Frete de carro, hospedagem, alimentação... tudo em Barra da Estiva era muito caro. À tardezinha, fomos para Tanhaçu, onde pegamos o Novo Horizonte para Milagres. Chegamos por volta das 03:20h e, não tínhamos dinheiro suficiente para nos hospedar num hotel e viajar no dia seguinte. Eu, Nívia, Sílvia e Antônia estávamos numa situação difícil (Darlene havia retornado para Jussiape e Yoneide seguiu viagem no Novo Horizonte para Salvador), para a nossa sorte, havíamos feito amizade com o Sr. Narciso (o homem que nos vendeu as passagens para o Camurujipe), que sensibilizado, nos ofereceu o pequeno guichê para que dormíssemos um pouco. Assim, ele foi embora e deixou a chave conosco. No guichê, encontramos um pequeno tapete, onde dormiram junto comigo Antônia e Nívia. Sílvia dormiu num banco que servia para que os passageiros esperassem os ônibus. Estávamos tão cansadas, que após uma pequena sessão de fotos para a posteridade (risos), caímos no sono e só despertamos por volta das 06:15h com um homem cantando muito alto do lado de fora. Era um funcionário do apoio rodoviário. Levantamos, fomos ao banheiro escovar os dentes e quando retornamos ao guichê uma funcionaria da Camurujipe já se encontrava lá. Após meia hora de espera, o nosso ônibus chegou. Pedimos à moça que agradecesse ao nosso bom samaritano e embarcamos no ônibus rumo a nossa casa. Nossa! E como foi bom chegar em casa. E, como já dizia Dorothy, “não há lugar como o nosso lar doce lar”.

Postado em 07 de setembro de 2010
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Na calada da meia noite

Por Meyre Anne Sampaio Moreira

Começava a chuviscar novamente, já eram 23:45h e o ônibus que costumava passar às 21:00h, nada de chegar. Estávamos em Contendas do Sincorá, naquela época era o município mais distante que havia em nosso pólo. Saíamos de casa às 06:00h e só chegávamos às 19:30h (isso quando o ônibus não quebrava, pois a estrada era um tapete de buracos. Aliás, buracos não, crateras! Até parecia a superfície da lua). Ficávamos lá por dois dias e o retorno era ainda pior, pois só havia um ônibus que rodava para Milagres, aonde chegávamos por volta de 03:30h e dormíamos até as 06:00h, uma vez que o primeiro ônibus para a nossa cidade só passava às 06:45h.

Naquela noite, o entra e sai da SEDE do Fluxo era constante. A todo o momento, uma das meninas saia para ver se o ônibus apontava e nada. As horas passavam e todas nós entediadas e ansiosas pela chegada do ônibus, estávamos inquietas. Eu estava jogando paciência no computador (imagine a cena!), Yoneide estava ao meu lado e logo depois, próximas à porta, estavam Antônia e Silvia. De repente, Nívia entra apressada na sala, gritando:

_ Gente! O ônibus passou agora. Depressa! Darlene foi ver se consegue pará-lo.

Sim. Isso mesmo! Num pequeno momento de descuido, elas deixaram o ônibus passar. Darlene bem que tentou pará-lo ao correr gritando e acenando, mas tudo o que conseguiu foi uma bela queda, pois havia chovido muito durante algumas horas, o chão estava escorregadio e havia poças de lama por toda parte. Porém, por sorte nossa (ou azar), o ônibus parou alguns metros depois para que alguns passageiros pudessem descer. E lá fomos nós correndo e gritando pela calçada, na esperança de que o motorista pudesse nos ouvir (antes ele tivesse ido embora!). Um dos passageiros que acabara de descer, nos viu e avisou a ele que havia algumas pessoas correndo para poder embarcar. E assim, conseguimos entrar no ônibus, onde eu, Nívia, Sílvia e Yoneide fomos sentar nas últimas poltronas. Grande foi a nossa surpresa quando o ônibus parou a uns cem metros adiante. Momentos antes, eu havia percebido um carro dando sinal para que o motorista parasse, olhei de relance e julguei que fosse alguém que havia perdido o ônibus. Assim que paramos, Nívia (que estava a meu lado) olhou pela janela e com a voz trêmula, disse-me:

_ Ai Meyre! Tem um homem com uma coisa enorme aí fora.

Imaginei até que o homem estivesse urinando, pela cara que ela fez. Antes mesmo que eu espiasse pela janela, um rapaz que estava sentado a nossa frente, falou:

_ É um homem armado.

Então, aproximei-me da janela para olhar e nada vi além de um carro branco parado. Quando me voltei para Nívia, essa já estava escorregando pela poltrona e orando a Deus. No mesmo instante, olhei para frente e me deparei com uma figura horrenda. Um homem mal-encarado, vestia uma camiseta branca (toda suja), uma calça rasgada e bastante surrada, um gorro preto na cabeça e apontava uma escopeta para nós. Nesse instante, meu sangue esfriou, minhas pernas tremeram e meu coração disparou (parecia um tambor tocado por um timbaleiro). Imaginei-me na Rocinha (Rj) diante de um traficante.

O silêncio pairava no ar, e em seguida, ouvi o homem gritar:

_ Cala a boca seu idiota, pois não te perguntei nada!!!

Gritava com um passageiro das primeiras poltronas, enquanto seus dois colegas jogavam seus pertences no chão (alguns objetos que estavam dentro de um saco).

Olhei para Nívia, que estava quase chorando, gemendo baixinho e preocupada que ela entrasse em pânico apertei sua mão, pedi que se acalmasse e ficasse quieta. Em seguida, ouvi Sílvia e Yoneide cochicharem:

_ Ai meu Deus! É um assalto Sílvia, disse Yoneide.

_ O que é que a gente faz agora Yoneide? Perguntou Sílvia.

Antes que eu escutasse a resposta, percebi que um dos homens, o mais pavoroso deles, vinha em nossa direção acompanhado pelo motorista. Nessa hora, achei que iria ter um curstipiu , pois estava sem nenhum tostão furado. Inclusive, Nívia pagaria minha passagem de Milagres a Itaberaba. Imaginei o que faria quando eles viessem me abordar e encontrasse a carteira vazia. Suava frio só de pensar na situação.

Eles passaram por nós e foram até o banheiro, o motorista na frente e o homem armado, logo atrás. Olharam lá dentro e voltaram para frente do ônibus. Então, o homem que acompanhara o motorista, novamente quebrou o silêncio ao dizer:

_ Bem pessoal! Isso é para a própria segurança de vocês. Somos policiais e recebemos a informação de que um assassino perigoso estava neste ônibus. Podem ficar tranqüilos e seguir viagem.

Tranqüilos!(imaginem!). Aquele cretino não poderia ter se identificado assim que entrou? Quase tive um colapso nervoso e Nívia quase se mijou de medo.

Seguimos viagem assustadas até Milagres e, eu ainda não tinha certeza se acreditava naquilo tudo que havia acontecido. Para mim, a qualquer momento seríamos abordados novamente naquela estrada deserta.

Ao chegarmos a Milagres, ficamos sabendo pelo motorista, que eles estavam à procura de um homem que havia assassinado um cidadão em Tanhaçu (município a 55 km de Contendas do Sincorá) e que o mesmo havia descido na praça da igreja, que fica próximo do local onde esperávamos o ônibus.

Fico imaginando como os nossos policiais são despreparados. Se queriam interceptar o ônibus, deviam tê-lo feito na entrada da cidade e não na saída. Além de incompetentes, são grosseiros, pois agrediram verbalmente algumas pessoas e quase mataram de susto as pessoas que estavam no fundo do ônibus (eu inclusive! Rsrssss).

Postado em 09 de setembro de 2010
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Pânico Geral

Por Meyre Anne Sampaio Moreira
Maracás era uma cidade agradável para se trabalhar, tranqüila e acolhedora. Durante o dia, visitávamos as escolas e à noite, nos divertíamos em pizzarias e restaurantes (que coisa boa!). Porém, uma coisa nos intrigava: aquele município era conhecido como cidade das flores, mas não entendíamos o porquê, pois não havia tantas flores assim por lá. Até que um dia, klunk! clunc! A ficha caiu e realmente pudemos ver muitas margaridas, rosas, antúrios, lírios (risos)...

A cidade tinha um clima muito agradável (pelo menos para mim que adoro temperaturas mais baixas), mas as meninas reclamavam da neblina e do frio constantes. Algumas delas dormiam com três blusas, calça, meias, luvas e ainda dois cobertores (isso é que sentir frio, hein?).

A SEDE do Projeto funcionava na Secretaria de Educação, na parte superior do Banco do Brasil, o que era um problema, pois naquele ano o banco havia sido assaltado duas vezes. E, detalhe: os assaltantes mandavam avisar que iriam cometer o delito.

Da última vez que o banco foi assaltado, tínhamos acabado de sair da cidade. Soubemos do assalto ao chegarmos a Contendas. Lamentamos o seqüestro do gerente e o tiroteio que aterrorizou os moradores. Quando retornamos ao município, pudemos verificar em algumas paredes da Secretaria as marcas de balas. Também percebemos que a cidade estava repleta de policiais fortemente armados. Eles faziam a segurança do banco e estavam por toda a praça da cidade. Motivo? Sim, o banco havia recebido uma nova ameaça de assalto.

Acredite se quiser, mas tantos policiais não foram capazes de impedir o roubo. Os bandidos invadiram o banco, não sei dizer como, houve troca de tiros e os meliantes ainda fugiram usando o carro da polícia (incrível, hein? Isso é que é ousadia!). Pois é, desta vez estávamos lá e o desespero foi grande. Eu e as meninas nos jogamos embaixo da cama e os estampidos das balas era ensurdecedor (pelo menos aos nossos ouvidos covardes e apavorados). Nosso único desejo era sair daquele lugar o mais depressa possível.

Quando tudo se acalmou, soubemos que os assaltantes tinham ido para Planaltino (município próximo a Maracás), mas não havia certeza e precisávamos ir para Lagedo do Tabocal (e se eles tivessem ido para Lagedo?). O medo e a insegurança tomaram conta de todas nós, mas viajamos assim mesmo e ao chegarmos a Lagedo, percebemos que o pânico era geral. A rádio local anunciava que duas viaturas perseguiam um carro, onde supostamente estavam quatro integrantes da quadrilha que assaltou o banco. Só víamos o corre-corre, as escolas liberando os alunos, os comerciantes baixando as portas de seus estabelecimentos, enfim, um caos total. Naquele dia não pudemos trabalhar e então resolvemos voltar para casa.

Até hoje não sabemos que fim levou a tal perseguição.

Postado em 09 de setembro de 2010
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Jogadas na praça, sem destino

Por Meyre Anne Sampaio Moreira

A viagem para Iramaia, era longa e entediante. A estrada esburacada, o mato tomando conta da pista e jegues por toda parte (aliás, apelidamos o entroncamento de Iramaia de “Jegolândia”, devido ao número muito grande desses animais naquela região).

Da primeira vez em que fomos ao município, ficamos hospedadas no hotel Santo Antônio. Não havia nenhum luxo no hotel, mas era o melhorzinho que havia por lá. A diária era cara, mas pelo menos havia tv em alguns quartos (tv era artigo de luxo em nossas viagens, já havíamos perdido o hábito de assistir aos nossos programas preferidos). Foi em nossa segunda viagem aquele município, que algo inusitado nos aconteceu. Como da primeira vez, descemos na praça e nos dirigimos ao hotel; chegando lá, fomos surpreendidas com a notícia de que não havia mais vagas, pois estavam abrindo uma nova estrada e os engenheiros (que eram muitos), estavam hospedados ali. Como não conhecíamos direito a cidade, pedimos informação sobre a possibilidade de haver um outro hotel e ficamos sabendo sobre uma pensão que ficava não muito longe dali. Então, fomo conhecer a tal pensão e ao chegarmos fomos recebidas por uma senhora mal humorada, que se apresentou como a proprietária. Pedimos três quartos e ela nos mostrou alguns disponíveis. Os quartos não eram bons, não havia janelas e nem um outro tipo de entrada para ventilação e o cheiro de mofo pairava no ar. O cheiro forte e sufocante era algo suportável, pelo menos para mim e Nívia, inclusive, já estávamos nos acomodando quando ouvimos uma confusão no corredor e saímos para ver o que estava acontecendo. A proprietária estava indignada com Antônia e Yoneide que reclamavam, acintosamente, do cheiro de mofo que tomava conta dos quartos. A senhora perdeu a paciência e nos chamou de “frescas”. Disse ainda, que nunca teve esse tipo de problema com hóspedes do sexo masculino. Resultado! Fomos expulsas da pensão.

De bagagem na mão e sem destino, resolvemos retornar à praça principal da cidade e lá ficamos por algum tempo sem saber o que fazer. Mais tarde, a líder local foi ao nosso encontro (ela já sabia do acontecido. Nossa! Como nos lugares pequenos as notícias correm!) e nos informou sobre uma outra pensão que ficava um pouco distante. E foi logo avisando:

_ Gente! Pelo amor de Deus, vê se vocês não arranjam mais confusão. O lugar é simples!

Imagine! Ficamos com a fama de encrenqueiras.

Sem opção, resolvemos arriscar. Eu e Sílvia ficamos tomando conta das bagagens. Darlene e Antônia foram à Paróquia pedir abrigo e Yoneide, Nívia e a líder local foram ver se havia vagas nessa pensão. Ao chegarem, se deparam com uma velha senhora que preparava o jantar. Segundo as meninas, do jeito que ela pegava as folhas, cortava-as para fazer a salada (sem lavar nada) e jogava numa travessa. Enquanto cortava as verduras, sem dar a menor atenção as três, ela resmungava:

_ Se for para a prefeitura pagar, tem uns quartinhos lá nos fundos do quintal. E, já vou avisando: se dormirem aqui, vão ter que comer também.

E as meninas explicaram:

_ Não se preocupe minha senhora. Seremos nós mesmas a pagar. Qual o valor da dormida? Perguntou Yoneide.

_ Ah, minha filha! Eu já não disse que se dormirem vão ter que comer também?

Foi a vez de Nívia tentar negociar.

_ Mas senhora! E se a gente quiser apenas dormir?

E a mulher retrucou:

_ Ou dormem e comem, ou podem procurar outro lugar.

Pelo que as meninas nos contaram, foi um festival de grosserias e a falta de higiene era impressionante. Dessa forma, disseram que preferiam dormir nos bancos da praça a comerem aquela gororoba preparada pela velha. Então, voltamos a estaca zero. Eu já me imaginava dividindo o chão com alguns cães que por ali rondavam, quando tive uma idéia. Voltei-me para a líder local e perguntei:

_ Será que você não consegue alguns colchonetes para que possamos dormir na SEDE?

E ela respondeu:

_ Acho que não é tão difícil. Mas quero preveni-las de que na SEDE não tem água no banheiro e às vezes aparecem alguns escorpiões.

Eu, Nívia e Yoneide estávamos disposta a correr o risco. Era melhor enfrentar um escorpião do que... sei lá o que poderia aparecer ali no meio da rua. Além do mais, seria pagar um micão (ou melhor, um King Kong; pois o vexame de dormir ao relento, seria grande demais). Antônia, Sílvia e Darlene não concordaram e diante do empece, a líder local foi à casa do prefeito e explicou a ele nossa situação. Graças a Deus, ele nos convidou a nos hospedarmos em sua casa. Pediu desculpas pela forma como fomos recepcionadas e explicou que o ramo de hotelaria em Iramaia era muito fraco, pois a cidade não recebia muitas pessoas com certa freqüência, o que impossibilitava aos comerciantes de investirem em bons hotéis. Bom! Para nós foi um ótimo negócio. A casa era enorme e havia vários quartos desocupados. Dessa forma, pudemos até escolher os quartos onde dormíramos. Resumindo: atendimento de primeira.

Postado em 12 de setembro de 2010
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A recompensa

Por Meyre Anne Sampaio Moreira

Apesar dos momentos difíceis pelos quais passamos, tivemos experiências muito agradáveis naquele ano. Como conhecer o Rio de Contas que passa em Jussiape, o Horto Florestal de Maracás, a Gruta do Sagrado Coração de Jesus em Ituaçu...

O primeiro passeio que fizemos foi em 1º de maio de 2002. Isso mesmo! Era feriado! Iniciamos a semana trabalhando em Barra da Estiva e como na quarta seria feriado, não havia a menor condição de voltarmos para casa e retornar ao trabalho na quinta, pois a distância que percorreríamos seria muito grande e iríamos apenas nos cansar à toa. Dessa forma, decidimos passar o feriado em Jussiape mesmo, uma vez que na quinta trabalharíamos lá. E não nos arrependemos, pois foi um dia muito agradável. Sílvia, Nívia e Yoneide foram conhecer o alambique onde se produz uma das melhores cachaças da Bahia, a “Abaíra”, que apesar do nome é fabricada em grande escala na região de Jussiape. Eu, Antônia e Darlene ficamos num reservado ao lado do rio de Contas, observando suas águas claras e cristalinas. Uma paisagem lindíssima! Passamos o dia inteiro ás margens do rio conversando, brincando, nos divertindo. Sílvia e Nívia, ainda aproveitaram para colocar um biquíni e pegar uma corsinha. Enfim, foi um dia inesquecível. Outro momento de descontração, foi conhecer o Horto Florestal em Maracás. Lugar espetacular! Árvores lindíssimas, muitas flores, vegetação verdinha, a natureza em completa harmonia. O ambiente do horto nos proporcionava uma paz interior muito grande. As pessoas aproveitavam para fazer caminhadas e praticar esportes. Por falar nisso, quando chegamos para conhecer o horto, já era de tardinha e havia um grupo de homens jogando futebol. Sílvia ficou toda ouriçada. Ela era a supervisora mais gaiata do grupo e não agüentava ver um belo par de pernas peludas que ficava “nervosa”, mas a gente a controlava direitinho. Também foi em Maracás que tivemos a oportunidade de conhecer a nascente do rio Jiquiriçá. Paisagem primorosa! Mas, de todos os lugares que conhecemos, o mais marcante foi a gruta do Sagrado Coração de Jesus.

Sempre que íamos a Ituaçu, ouvíamos histórias interessantes a respeito da gruta. Então, decidimos nos aventurar nessa peregrinação. Contratamos um guia, nos equipamos com máquinas fotográficas, garrafinhas de água e muita disposição. Eram aproximadamente 4km de travessia. Os primeiros 700m eram iluminados e pudemos observar belíssimas imagens esculpidas pela água na rocha através de milhares e milhares de anos. Estalactites e estalagmites faziam um espetáculo à parte em várias galerias, formando verdadeiras colunas e outras obras de arte da natureza. Seguimos em frente, e agora a única iluminação vinha de um pequeno lampião e duas lanternas que o guia levava consigo. Em meio a escuridão, as imagens iam ganhando vida com a luz das lanternas. Podíamos ver árvores, pessoas, animais, cachoeiras; enfim, imagens diversas. Bastava soltar a imaginação.

O trajeto ficava mais difícil a cada hora que se passava. A temperatura baixava mais e mais e a medida que avançávamos, a umidade constante, junto com nosso cansaço, fazia com que tivéssemos um pouco de dificuldade em respirar. Pelas contas do guia, já havíamos percorrido uns 2km quando começamos a ouvir um barulho de água correndo entre as rochas. Ele nos informou que ali passava um rio subterrâneo. Pedimos para ver, mas ele disse que era perigoso, pois havia partes da gruta que ainda não fôra explorada e ele temia que pudéssemos nos perder entre as diversas galerias. Assim, se realmente existe um rio subterrâneo não pudemos vê-lo, mas conseguíamos ouvi-lo. Seguimos em frente e não muito distante, contemplamos um pequeno lago negro cheio de pedras. O barulho das águas correndo entre as rochas, se aproximava de nós, mas em direção contrária ao nosso percurso. As várias pedras no pequeno lago, serviram de degraus para a nossa escalada. É, tivemos que subir cerca de uns 2 metros para continuar o nosso trajeto. Após a escalada, andamos mais ou menos meia hora até chegarmos num ponto onde o céu e o chão pareciam se encontrar, de tão próximos. Foi nesse momento, que o guia perguntou se queríamos ver o céu repleto de nuvens carregadas em meio a uma grande tempestade, porém, para que pudéssemos contemplar tal espetáculo ele teria que apagar o lampião. Eu não gostei muito da idéia, pois tenho fobia de escuridões completas, mas como ele não sabia disso e eu desejava ver o tal fenômeno, concordei. E durante uns dois minutos ficamos na completa escuridão, observando o teto da montanha ser iluminado por apenas um facho de luz que saia de uma das lanternas que era ligada e desligada propositalmente, a fim de provocar um efeito que nos fazia lembrar de algo parecido como relâmpagos entre nuvens escuras. Assim que terminou o show nosso guia tentou ascender o lampião e não conseguiu, tentou novamente e nada. Eu já estava começando a sentir falta de ar – devido a escuridão profunda – quando na terceira tentativa ele conseguiu ascender o bendito lampião. Nossa! Foi um alívio.

Faltavam apenas uns 400m para o fim de nossa aventura. Continuávamos firmes e compenetradas em nossa caminhada, mas desejávamos chegar logo ao outro lado da montanha, pois já havia sinais de exaustão na maioria de nós. Andamos por mais algum tempo até enxergarmos uma pequena claridade surgir ao longe no meio da escuridão. E quão grande foi a nossa surpresa ao entrarmos na última galeria antes da saída da gruta. Havia uma grande abertura lá no alto e para alcançarmos, tínhamos que subir uma enorme escadaria de cimento construída pelo homem, a fim de facilitar o acesso á saída. Eram cerca de 937 degraus. Nunca consegui esquecer esse número.

Perdi o fôlego, mas fui a primeira a chegar ao topo. Atrás de mim vieram Sílvia, Nívia e Yoneide. Sentamos no último degrau e ficamos recuperando o ar, ao mesmo tempo em que ríamos de Antônia, Darlene e principalmente Gorete – a líder local – que tinham sérias dificuldades em subir a imensa escadaria. As três encontravam-se arrasadas, apenas espectros de mulheres.

Quando saímos da gruta encontramos um carro a nossa espera como fôra combinado anteriormente. Fomos para o hotel, onde tomamos um demorado banho e em seguida fomos jantar. Ainda estávamos excitadas com a aventura vivida na gruta e não paramos de conversar, pois foi uma experiência maravilhosa. Inesquecível!

Postado em 12 de setembro de 2010
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