segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

ETAPA II DO PROGRAMA TOPA: MINHA PRIMEIRA AVENTURA DO ANO


"Educar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais... Entendo assim a tarefa primeira do educador: Dar aos alunos a razão para viver".
Rubem Alves
Continuando as andanças pelas minhas memórias, ainda falaremos do Programa TOPA, porém dessa vez iremos conhecer mais sobre a segunda etapa desse Programa, certo?
A Etapa II do Programa TOPA – Todos pela Alfabetização / Brasil Alfabetizado teve início, com a Formação Inicial de 40h, em 30 de janeiro de 2009. Os jovens e adultos atendidos na segunda etapa do Programa, sob a abrangência da UNEB, estavam distribuídos na zona urbana e rural de 143 municípios do Estado da Bahia. Homens e mulheres vivendo os tempos da juventude e da vida adulta, privados de muitos dos seus direitos, dentre eles o direito à educação.
Os alfabetizandos do TOPA são mães, pais, avós que atravessam rios numa pequena canoa durante 40 minutos ou 1 hora, levando seus filhos e netos nessa perigosa aventura, pois não têm com quem deixar. São diaristas, lavradores, pedreiros, membros de associações de bairro, pessoas com dons artísticos, etc. São sujeitos que buscam aprender “nas mais diferentes formas de trabalho, de organização social (família, igreja, comunidade, associações, sindicatos etc.) e ainda, no espaço e tempo da escolarização dos seus filhos e netos”, como já dizia Arlene Malta (ex-coordenadora do setor de Coordenação de Educação de Jovens e Adultos - CJA).
Alfabetizanda - Itaberaba / Ba
Alfabetizando - Zona Rural de Presidente Dutra / Ba
Coordenadora de Núcleo e Alfabetizandos de Seabra / Ba
Os jovens, adultos e idosos que buscam no Programa uma aprendizagem que atenda às suas necessidades atuais, compõem um universo de pessoas com anseios e sonhos. E, é buscando concretizar muitos desses sonhos que a proposta do Programa está pautada em alfabetizar na perspectiva do letramento, procurando criar condições para que os alfabetizandos possam dominar as habilidades de ler e escrever. O Programa tem como objetivos proporcionar situações que garantam ao alfabetizando desenvolver capacidade de compreender o sentido geral de textos lidos oralmente, ler e escrever textos com diferentes funções de linguagem, produzir textos simples de diferentes tipos e modalidades, utilizar as operações matemáticas para solução de problemas do cotidiano, discutir de forma crítica assuntos de interesse da comunidade e aplicar novos conhecimentos na solução de problemas da vida comunitária.
O primeiro passo, para garantir os objetivos propostos pelo Programa é preparar alfabetizadores e coordenadores de turmas dando-lhes subsídios para o saber fazer. Ao alfabetizador propomos novas estratégias e práticas, significando e ressignificando sua práxis pedagógica. Para o coordenador de turmas criamos condições para que ele possa assumir o papel de formador de seus alfabetizadores, no decorrer do Programa.
Formação Continuada - Brotas de Macaúbas / Ba
A Universidade do Estado da Bahia (UNEB), através da PROEX / NEJA é responsável pela formação inicial e continuada de alfabetizadores, coordenadores de turmas e tradutores intérpretes de libras, bem como do acompanhamento das ações desenvolvidas nos municípios. E, como Unidade Formadora desenvolve essas ações em três momentos.
Ação I - momento inicial da Formação, sob a responsabilidade de especialistas, docentes da UNEB e de outras Instituições. A Formação inicial tem a carga horária de 60 horas, desdobradas em dois momentos; um de 40 horas e outro de 20 horas.
Ação II - momentos de formação continuada, realizada pelo Coordenador de Turmas, pelo Coordenador de Núcleo e pelo Monitor. São 8 horas mensais de formação sob a responsabilidade do Coordenador de Turmas. Esta carga horária é distribuída em encontros semanais de duas horas cada ou em encontros quinzenais de quatro horas. O Coordenador de Núcleo realiza Formação Continuada dos Coordenadores de Turmas, que por sua vez se tornam multiplicadores de conhecimentos, junto ao seu grupo de alfabetizadores durante os encontros de formação continuada.
Ação III - acompanhamento da Prática Pedagógica sob a responsabilidade dos Coordenadores de Turmas, dos Monitores e dos Coordenadores de Núcleos. Ocorre durante todo o Programa e intenciona a reflexão dos alfabetizadores acerca da prática, em um movimento continuo de ação-reflexão-ação.
Formação Inicial de 40h em Baianópolis / Ba
Visita à Classe - Sítio do Quinto / Ba
Visita à Classe - Andaraí / Ba
Já que estamos falamos em Formação Inicial, vou contar um pouco da minha aventura quando fui a Nova Soure realizar a formação dos participantes da Etapa II do Programa TOPA.
De 02 a 06 de fevereiro de 2009, eu e mais três formadoras realizamos a Formação Inicial de 40 horas no município de Nova Soure. É uma cidade pequena com aproximadamente 27 mil habitantes e fica a 225 km de Salvador.
            Na verdade a minha ida a Nova Soure foi decidida às vésperas da formação, pois a professora designada para tal ação teve um imprevisto e só comunicou ao NEJA faltando dois dias para o evento acontecer. Como Coordenadora Pedagógica do Programa, recebi a incumbência de substituí-la e foi por esse motivo que vivi uma experiência inesquecevível (risos).
Estava em casa, na manhã de sábado do dia 31 de janeiro do referido ano, quando recebi uma ligação da Coordenadora Geral do NEJA, Maria José de Faria Lins, comunicando a mim que a formadora selecionada para realizar a formação no município de Nova Soure havia avisado naquele momento que não poderia cumprir seu compromisso firmado com o Núcleo. Assim, eu teria que ir em seu lugar, pois não havia como conseguir outra pessoa em cima da hora. Diante da situação, aceitei realizar a formação marcada para ter início no dia 02 de fevereiro, ou seja, na segunda-feira. Eu não conhecia o município de Nova Soure e as únicas informações que recebi da pessoa que marcara a formação foi o nome da pousada onde ficaria hospedada e o horário do ônibus que saía de Salvador às 20:10hs no domingo. Como era fim de semana tentei fazer contato com os representantes do TOPA no município, mas não obtive êxito, uma vez que minha colega esqueceu-se de solicitar o número do celular da gestora do Programa e do dono da pousada. Então, não teve jeito, viajei no escuro (literalmente. Rsrssss), sem nenhuma informação mais concreta da formação e do município ao qual me dirigia meio angustiada.
Apesar da angústia de não ter maiores informações sobre a minha chegada ao município, nunca imaginei que aconteceria o que ACONTECEU. (risos, hoje que o acontecido é apenas uma lembrança posso rir da situação). Então vamos lá!
O início da noite ainda trazia um pouco do calor que havia feito durante todo o dia naquele domingo. Saí de casa com destino a rodoviária por volta das 19:00hs. A empresa de ônibus que fazia linha para Nova Soure era a Regional, então ao chegar à rodoviária fui para a plataforma de embarque B e tomei meu lugar no ônibus que saiu às 20:20hs. Foi uma viagem tranqüila, pois a estrada estava ótima. Ainda me lembro como hoje, era 01:00hs da madrugada quando ouvi a cobradora do ônibus anunciar: “Nova Soures!’’ Isso mesmo (risos), ela disse Nova Soures.
Olhei pela janela do ônibus e tudo estava muito escuro, não dava pra enxergar nada. Então perguntei para ela se o ônibus iria até a rodoviária e, muito educadamente (pra não dizer ao contrário. Ela era grosseira ao extremo) ela praticamente gritou: “Já estamos na rodoviária!”
Tornei a olhar pela janela e nada vi além de uma escuridão profunda, então fui ao encontro da criatura (a cobradora) que já havia decido do ônibus para tirar minha mala. O que eu poderia fazer? Ela disse que ali era a rodoviária, então desci. Pra piorar ainda mais minha situação fui a única a desembarcar em Nova Soure e quando o ônibus seguiu seu destino fiquei em pé, parada à beira da estrada em meio a uma escuridão infinita, sem saber em qual direção seguir. Demorou cerca de uns 5 minutos e eu continuava ali parada, sem reação, pois não sabia o que fazer, não tinha a menor ideia pra que lado ficava a cidade. O ônibus a partir daquele horário não entrava na rodoviária, pois a mesma fechava às 22:00hs. Acreditem se quiserem! Eu demorei a acreditar também, pois nunca imaginei chegar de madrugada em Nova Soure e não encontrar um táxi, que dirá encontrar a rodoviária fechada e muito menos ser deixada na beira da estrada. Pois é, meus amigos e amigas, tive vontade de chorar.
Passados mais ou menos mais cinco minutos sem saber o que fazer, meus olhos começaram, ainda com muita dificuldade, a enxergar do outro lado da pista a uns 300 metros, o que seria a rodoviária. Estava mal iluminada e tinha árvores e matos à sua frente, o que significava que deveria ter uma passagem para chegar até lá, mas eu não fazia ideia onde estaria essa passagem no meio daquele mato, pois a pista ficava num nível bem mais alto que o terreno onde se localizava a rodoviária e o mato na beira da pista era grande e fechado, sem falar em algumas árvores que completavam a paisagem. Comecei a ficar com medo, pois estava sozinha na beira da estrada deserta, completamente desnorteada, carregando uma mala de rodinhas.
 Então, orei baixinho pedindo a Jesus que me desse uma luz, que me ajudasse a sair daquela situação. Gente! Juro por tudo o que é mais sagrado! Não demorou nem um minuto e do meio do mato, logo a minha frente, surgiu um vulto todo de branco. Eu não quis nem saber se era homem ou mulher, amigo ou inimigo, fantasma ou alucinação. Comei a gritar desvairadamente: “Ei, Ei! Pode me ajudar”? O vulto, que seguia adiante, voltou e veio andando em minha direção, logo percebi que era um homem de mais ou menos 38 anos e, o cumprimentei: “Boa Noite! Desculpe-me por incomodá-lo, mas faz uns dez minutos que desembarquei da Regional e não tenho a menor idéia de como chegar à pousada Nova Opção. O senhor sabe onde fica”? Ele, respondeu: “É perigoso ficar sozinha a essa hora da madrugada na beira da pista”! E eu, me justifiquei: “Não sabia que a rodoviária daqui fechava a noite e então fui surpreendida com essa situação. Imaginei que chegando aqui, encontraria um táxi que me levasse até a pousada”. Ele, então, sorriu e disse: “Táxi aqui é artigo e luxo, algo difícil de encontrar”. Eu nem quis acreditar. Então, ele pegou minha mala e disse que me levaria até a pousada e, assim o fez. Atravessamos a pista, caminhamos um pouco pela beira da estrada até uma pequenina trilha de cascalho no meio do mato. A trilha descia na direção oposta onde se encontrava a rodoviária. Eu jamais encontraria aquela passagem no meio daquela noite escura.
Ele foi muito gentil, durante a caminhada foi me mostrando os principais pontos da cidade, como o estádio de futebol, por exemplo. O percurso foi feito em aproximadamente 15 minutos. Ao chegar à pousada, agradeci e o cumprimentei novamente. Nossa! Ele foi um anjo enviado por Deus!
Na manhã seguinte, encontrei as outras formadoras. Uma veio de Feira de Santana, seu nome é Dilzete. As outras duas, vieram de Paulo Afonso, Gicelma e Edjane. Nenhuma delas passou o sufoco que eu passei. Dilzete chegara pela manhã e Edjane e Gicelma, um pouco depois de mim; todavia, não desembarcaram sozinhas, pois havia um grupo de pessoas de Nova Soure que vieram no ônibus e conduziram-nas até a pousada.
Gicelma e Edjane ralharam comigo, disseram que me arrisquei demais. Que aquele homem poderia ser um bandido e coisa e tal. Mas o que eu poderia fazer? Naquela situação, preferi acreditar que ele era o socorro que Jesus enviara a mim e tenho certeza de que realmente era, afinal de contas, se não fosse por ele, o máximo que eu poderia fazer era dar um jeito de chegar até a rodoviária, só Deus sabe como, e passar uma noite agradável num banco de cimento ou coisa parecida.
Depois de tomarmos o café da manhã, seguimos para o colégio onde aconteceria a formação. A formadora Dilzete tivera contato com a gestora e soubera do local da formação. Logo, logo eu esqueceria aquela experiência desagradável, pois o grupo de alfabetizadores e coordenadores de turmas daquele município era simplesmente sensacional. Principalmente a gestora Jaciane, carinhosamente conhecida como Thyane. Imaginem aquela pessoa que você acaba de conhecer, mas parece que já a conhece há dez anos, sabe? Assim é Thyane, uma pessoa linda, simpática, amiga, meiga e carinhosa, além, é claro, de uma profissional dedicada e muito competente. Ela havia organizado toda a formação de Nova Soure, desde a contratação dos serviços de alimentação e transporte dos participantes até a organização dos espaços de formação com todo o equipamento necessário.
Foram cinco dias de muito trabalho, onde todo o grupo participou das atividades propostas de forma ativa, crítica e criativa, compartilhando experiências e construindo novos saberes, coletivamente.
Formação Inicial de 40h - Nova Soure / Ba
Formação Inicial de 40h - Nova Soure / Ba
Formação Inicial de 40h - Nova Soure / Ba
     
Posso dizer que foi uma experiência gratificante realizar a formação em Nova Soure, apesar do calor de 400 (quase torrei naquele sol de rachar o juízo. Eu suava, na sala de aula, igual a um cuscuz. Rsrssss). O grupo daquele município demonstrou ter compromisso com o Programa e acima de tudo com os alfabetizandos, que é alma do Programa.
E assim, junto com minhas colegas formadoras, Dilzete de Feira de Santana, Gicelma e Edjane de Paulo Afonso, concluímos nossa jornada de trabalho e retornamos para casa na sexta-feira a noite. Eu trouxe mais do que lembranças daquele lugar. Ganhei uma amiga sincera e muito querida, Jaciane ou como ela é conhecida na cidade, Thyane.
Um cheiro, Thyane! Você mora na sala Vip do meu coração!
Thyane / Jaciane Saldanha
Fontes:
MALTA, A. A. Educação de Jovens, Adultos e Idosos. Módulo I do Curso de Aperfeiçoamento EJA na Diversidade. Universidade Aberta do Brasil. LEPEJA – FACED/UFBA. 2010.


 

2 comentários:

  1. Garota, você é muito criativa!
    Parabéns, seu blog tá show de bola!

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  2. Olá Meyre!!
    Só agora posso postar no meu blog, li algumas historia e adorei. Continue!!!!
    Beijos, adoro vc!!
    Nivia

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